Convidadas pelo Centro de Investigação do ELSA-Brasil na Bahia, Conceição Nogueira, docente na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, e Liliana Rodrigues, doutoranda na mesma instituição, se apresentaram no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) no último mês de março.

No Seminário de Pesquisa “Gênero e sexualidades numa perspectiva feminista interseccional: o cenário em Portugal”, Conceição fez uma reflexão sobre seu trabalho na área de gênero e sexualidades. “Não é a apresentação de resultados, mas de uma perspectiva teórica e epistemológica sobre a forma como nós, no nosso grupo em particular e algumas pessoas em Portugal, trabalham o gênero e sexualidades”. A pesquisadora apresentou “uma perspectiva e uma epistemologia feminista, que é o que nos caracteriza, e dentro disso a perspectiva do feminismo da terceira onda, associada e iniciada pelo feminismo negro, que por essa vez está associado à teoria da interseccionalidade”. A teoria da interseccionalidade foi apresentada no final da década de 1980 por feministas negras que não identificavam no “feminismo branco” respostas às suas demandas e cobravam a inclusão do viés racial nas discussões feministas. Atualmente a teoria, que objetiva a análise não isolada e relacional, inclui outros fatores relacionados às desigualdades que vem sendo articulados nos estudos feministas.

A teoria da interseccionalidade também está presente no trabalho de Liliana Rodrigues. Sua tese de doutorado, “Transexualidades em Portugal e no Brasil: Contributos da Psicologia Social Crítica e dos Direitos Humanos”, desenvolvida em parceria entre Portugal e Brasil, será defendida no final de abril desse ano. A doutoranda, orientada por Conceição Nogueira, apresentou o trabalho construído a partir de uma perspectiva crítica sobre os trajetos de vida e a construção de identidades de pessoas trans, travestis e transexuais nos dois países. A pesquisadora queria saber “o que implica as transexualidades estarem ainda ancoradas em um modelo biomédico, e fazer essas leituras no âmbito da psicologia crítica e da desconstrução dessas subjetividades”.

O trabalho discutiu situações de discriminação que acontecem em ambos os contextos, principalmente no âmbito médico, biomédico e psicológico, e o acesso à saúde a partir da perspectiva da Organização Mundial de Saúde (OMS) que inclui, muito além da ausência de doenças, estar bem fisicamente, psicologicamente e emocionalmente. Outro ponto discutido na tese foram as relações interseccionais: “Pensar que uma mulher trans negra no Brasil traz uma experiência de discriminação completamente diferente de uma trans branca portuguesa”. O trabalho de Liliana foi desenvolvido a partir de entrevistas qualitativas realizadas em Portugal e no Brasil – regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul.

As duas pesquisadoras discutiram propostas de parcerias com o ELSA-Brasil. Para Conceição Nogueira, “a parceria com o projeto é algo novo e estou convencida que em Portugal poderá ser o início do desenvolvimento de projetos nessa área [gênero e saúde] na qual não há muita experiência, e quem sabe até possibilidade de parcerias, bolsas e de pessoas que podem ir para lá e vir para cá”.

O registro em vídeo da apresentação “Gênero e sexualidades numa perspectiva feminista interseccional: o cenário em Portugal”, realizada pela pesquisadora Conceição Nogueira, está disponível no canal do Laboratório Audiovisual do ISC/UFBA no YouTube. Clique aqui para assistir ao seminário.