A taxa de erro na administração de medicamentos é considerada alta na América Latina, com destaque para o uso de medicamentos antes ou depois do horário prescrito, doses fora das recomendações e casos de omissão. O alerta é de um estudo liderado pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e publicado recentemente no periódico PLOS ONE, revista científica internacional de elevado impacto.

O artigo intitulado “Drug administration erros in Latin America: A systematic review” é um dos produtos da tese de doutorado “Erros de administração de Medicamentos em um hospital universitário: incidência, gravidade e fatores de riscos”, desenvolvida pelo professor e pesquisador Lindemberg Assunção Costa, no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do ISC/UFBA, sob orientação do professor Luis Eugenio de Souza.

A revisão sistemática buscou padronizar a identificação e avaliação de gravidade dos Erros de Administração de Medicamentos (EAM) no ambiente hospitalar latino-americano. “O objetivo é subsidiar novas ferramentas de assistência ao paciente e melhorias nos processos de cuidado, além de incentivar a condução de novos estudos na América Latina, que se mostraram escassos”, destaca o professor Lindemberg Assunção Costa.

O levantamento revisou dez estudos que investigaram erros de administração de medicamentos em 22 hospitais, no Brasil e no Chile, entre os anos de 2006 e 2018.  “Apenas dez estudos em todo o continente preencheram os critérios de inclusão, a exemplo do uso da técnica de observação direta, que é considerada a mais confiável para a identificação de Erros de Administração de Medicamentos (EAM)”, explica Costa.

Segundo a revisão, a taxa de erro de administração de medicamentos variou entre 9% e 64%, com taxa mediana de 32%, nos estudos analisados. O erro mais frequente foi o de horário, definido como a administração do medicamento antes ou após 30 ou 60 minutos do horário prescrito. A frequência desse tipo de erro variou de 8,3% a 77,3%. O segundo mais recorrente foi o de dose errada, com frequências variando de 1,7% a 26,4%. Os erros de omissão também foram outro subtipo comum, com frequências de 5,3% a 10,5%.

Os grupos de medicamentos mais envolvidos em erros de administração foram os anti-infecciosos de uso sistêmico (sistema nervoso, sangue e órgãos formadores, sistema cardiovascular, sistema digestivo, metabolismo e sistema respiratório). Em relação aos medicamentos de alta vigilância, também chamados de potencialmente perigosos, os mais envolvidos em erros de administração foram a heparina (anticoagulante), tramadol (analgésico derivado da morfina) e insulina (hormônio usado no tratamento de diabéticos). Vale destacar que os medicamentos de alta vigilância têm um risco aumentado de causar danos significativos ao paciente quando usados de forma errada. No entanto, nenhum estudo avaliou a gravidade dos erros de administração de medicamentos.

O trabalho é a primeira revisão sistemática sobre a prevalência e natureza dos erros de administração de medicamentos em hospitais latino-americanos. Para Costa, a revisão mostra a necessidade de novos estudos em outros países para construir uma visão mais abrangente sobre os erros dessa natureza.

“Mais estudos usando a técnica de observação direta são necessários para obter uma estimativa mais precisa da natureza dos erros de administração de medicamentos. Outra questão que precisa de mais detalhes é a avaliação da gravidade dos erros, pois nenhum dos estudos, mesmo os que se propuseram a fazê-lo, realizou esse tipo de análise, que é de fundamental importância para uma boa gestão de risco”, conclui.

A pesquisa é apoiada pelo Instituto Nacional de Assistência Farmacêutica e Farmacoeconomia (INAFF), instituição de fomento ao ensino e pesquisa científica nas áreas de avaliação de tecnologias em saúde, gestão em saúde e assistência farmacêutica.

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