Na semana que antecedeu o início do semestre 2023.1 na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que acontece nesta terça-feira (14), com a abertura do Congresso UFBA 2023 (acesse aqui a programação do ISC: http://www.isc.ufba.br/?p=20515), uma série de atividades compuseram a Semana de Integração do Instituto de Saúde Coletiva (ISC). Voltada aos alunos de pós-graduação do Instituto, a programação de encontros, visitas e debate possibilitou o compartilhamento de saberes e experiências e o acolhimento aos discentes.

Ao longo da semana, novos alunos realizaram visitas (https://www.instagram.com/p/CpvMKhtO9pB/) aos programas integrados (PIs) de pesquisa, ensino e cooperação técnica e a núcleos de ensino e pesquisa do ISC, atividade que contou com uma apresentação de professores que integram cada espaço e diálogo sobre as atividades desenvolvidas. O modelo de organização dos PIs adotado no Instituto propicia a integração de disciplinas e conteúdos e uma articulação que envolve docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação e graduação.

Monique Esperidião, docente do ISC que integra o colegiado da pós-graduação, avalia que a visita “constitui-se numa oportunidade para que os novos alunos conheçam as várias atividades do ISC, seja no ensino, na pesquisa e na cooperação técnica, mas também reconheçam a particularidade de sua dinâmica de funcionamento cuja lógica, distinta da organização departamental, prioriza a transdisciplinaridade e a parceria entre Programas”.

A Semana de Integração contou também com momentos de acolhimento nos quais cada estudante pôde narrar elementos centrais de sua trajetória ligados à entrada no ISC. No diálogo sobre expectativas e pontos de apoio e de fragilização, houve o compartilhamento de histórias, sonhos e objetivos de transformação pessoal e de uma atuação relevante no mundo. Os estudantes também apontaram a importância e o desafio de manter a atenção e estar presentes em meio a muitas atividades, estímulos e expectativas.

Marcelo Castellanos, coordenador do Colegiado de Pós-graduação do ISC, destaca que os estudantes ingressantes expressaram a alegria de estar participando das atividades de acolhimento e o desejo que esse acolhimento sentido na Semana de Integração se mantenha vivo ao longo de todos os dias da pós-graduação. Para que isso ocorra, “precisamos também nos acolher dentro das atividades que realizamos, que muitas vezes geram muitos sentidos de realização, mas também angústias, sofrimentos, uma sensação de insuficiência, dívida e cobrança”, avalia o docente.

Para o pesquisador, diante da importância de um ambiente institucional acolhedor, compreensivo e solidário, ponto reforçado pelos novos alunos, é preciso “que a gente aprenda cada vez mais a desenvolver esse tipo de experiência de acolhimento em direção a nós, ao outro, e em rede dentro do Instituto, para produção desse espaço cotidiano, que já existe, mas pode ser melhorado”.

Democracia e saúde: qual a relação?

Como o processo político brasileiro impacta as condições de saúde da população do país? No primeiro Saúde Coletiva em Debate do semestre 2023.1, realizado na última sexta-feira (10), o pesquisador Maurício Barreto, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do ISC e coordenador do Cidacs – Centro de Integração de Dados e Conhecimentos da Fiocruz Bahia, apresentou dados que mostram os efeitos de políticas sociais e de saúde, e da ausência delas, sobre as condições de saúde de diferentes grupos populacionais brasileiros.

Dividindo sua apresentação por diferentes intervalos de tempo, desde o período colonial até antes das eleições de 2022, o epidemiologista pontuou questões como o genocídio das populações originárias do país, que continua e foi agudizado no último governo, citando como exemplo a situação dos Yanomamis; o intenso tráfico de escravos para o país e a abolição feita sem acesso à educação, terra, empregos e nenhum direito humano; e fatores sociais e econômicos, interdependentes, que geraram uma sociedade injusta e desigual.

Ao falar sobre o período de redemocratização, a partir de 1985, Barreto destacou desdobramentos da Constituição de 1988, com a instituição de direitos sociais, e do início de um novo ciclo político, alicerçado nos princípios da democracia, liberdade e justiça social. No âmbito das políticas de saúde e sociais, ressaltou os impactos dos programas Saúde da Família e Bolsa Família.

Os dados expostos pelo pesquisador mostraram que a interação entre políticas como as ações afirmativas, a transferência condicionada de renda e outras voltadas para o abastecimento de água, o saneamento e a educação a políticas de saúde – imunização, saúde indígena, saúde da população negra, entre outras – implementadas em uma perspectiva pró-equidade tiveram efeito imediato sobre a pobreza e as desigualdades sociais, com impacto mensurável nas desigualdades em saúde.

Por sua vez, a ruptura do processo democrático em 2015, com a adoção de medidas de austeridade e cortes nas políticas sociais e de saúde, teve efeitos negativos imediatos na saúde da população, em particular nos grupos mais vulneráveis.

Barreto concluiu sua apresentação chamando a atenção para a manutenção de grandes desigualdades sociais, fonte de desigualdades significativas em saúde, mesmo nas democracias liberais, consideradas as mais avançadas.