Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

[:pb]O Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que há mais de uma década acompanha a saúde de 15 mil servidores brasileiros, publicou os primeiros resultados de uma ampla pesquisa que avalia o impacto da Covid-19 sobre a vida dos participantes. Segundo o levantamento, a pandemia repercutiu significativamente na saúde mental dos servidores, sobretudo entre as mulheres. Durante o distanciamento social, 24% delas apresentaram sintomas de depressão, 20% enfrentaram ansiedade e 17% alegaram estresse.

O estudo também aponta que o número de mulheres que se sentiram isoladas na pandemia foi 25% maior em relação aos homens. De forma geral, 14% dos entrevistados, independente do gênero, avaliaram a própria saúde mental como regular a muito ruim no período. Entre os homens, 17% tiveram depressão, 11% ansiedade e 10% apresentaram sintomas de estresse no decorrer da pandemia.

“As mulheres acumulam uma dupla carga de trabalho e são obrigadas a dividir o tempo entre o trabalho profissional e o doméstico, com implicações para a hierarquização de prioridades no cotidiano. Durante a pandemia, agravou-se ainda mais essa questão”, alerta Sheila Alvim, professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA) e coordenadora local do ELSA-Brasil.

No total, o estudo ouviu 5.639 participantes distribuídos em cinco centros de investigação do ELSA-Brasil. Além da Universidade Federal da Bahia, (UFBA), foram consultados servidores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Fiocruz-RJ. Cerca de 58% dos respondentes eram mulheres, com mais de 55 anos (67%) e pessoas casadas ou vivendo em união estável (61%).

As entrevistas realizadas têm foco no comportamento dos participantes desde o início da pandemia, como hábitos alimentares, práticas de atividades físicas, além da investigação dos níveis de exposição à Covid-19. O objetivo é comparar aspectos da saúde dos servidores antes, durante e após a pandemia de Covid-19.

“O estudo suplementar ao ELSA-Brasil sobre a COVID-19 avalia o impacto total da pandemia na saúde dos participantes do estudo. Através dessa pesquisa, nós vamos verificar a carga da Covid-19 e das medidas utilizadas para seu controle, para que formuladores de políticas possam fazer um debate informado sobre prós e contras de políticas públicas para controle da pandemia”, explica a coordenadora.

Isolamento social

Segundo o levantamento, 67% dos servidores aderiram totalmente ao distanciamento social no primeiro contato de entrevistas. No segundo contato, a adesão reduziu para 59%, enquanto a adesão parcial subiu de 16% para 34%. O intervalo entre as entrevistas variou de 1 a 4 meses, de acordo com a disponibilidade dos respondentes. Em todas as categorias avaliadas, as mulheres adotaram as medidas em maior proporção do que os homens.

O estudo destaca ainda a relação entre a adesão às medidas de distanciamento social e a idade dos servidores. Quanto maior a idade, maior o cumprimento do isolamento. Já as medidas sanitárias de proteção, como uso de máscara ao sair de casa e a lavagem frequente das mãos com água e sabão, foram adotadas por mais de 90% dos servidores.

Acesso à saúde e impacto econômico

Entre aqueles que realizaram algum exame para diagnóstico de Covid-19, 26% testaram positivo para a doença. Cerca de 1/3 dos participantes da pesquisa também alegaram problemas para acesso aos serviços de saúde de forma geral, como dificuldade para aquisição de medicamentos, realização de exames ou mesmo para conseguir vaga de internação. Do total de servidores entrevistados, 15% encontraram dificuldades em conseguir atendimento médico.

O estudo ainda avaliou o impacto econômico da Covid-19 nas famílias dos servidores. Cerca de 55% dos participantes afirmam que foram afetados ou tiveram familiares afetados economicamente. Outros 39% ajudaram financeiramente algum membro da família e 61% consideraram que as despesas semanais domésticas aumentaram no período da pandemia.

Quarta onda

O ELSA-Brasil acompanha anualmente a saúde de cada um dos servidores participantes por inquérito telefônico. Por ser um estudo observacional, não há intervenção direta por parte da pesquisa ou pesquisadores do estudo. “Demandas de saúde específicas dos participantes são resolvidas pela coordenação do estudo e os servidores podem ser encaminhados ao Serviço Médico das Universidades e Institutos de Pesquisa participantes em cada centro de investigação”, destaca Sheila Alvim.

Os servidores participantes continuam sendo contatados por telefone para a entrevista anual de seguimento. A próxima etapa presencial do estudo está prevista para o segundo semestre de 2022, caso as condições sanitárias sejam favoráveis. A chamada “quarta onda” prevê a atualização das informações sobre a saúde dos participantes e pretende estudar a relação entre a pandemia, as doenças transmissíveis com surtos recentes no Brasil, e as doenças crônicas não transmissíveis, particularmente as doenças cardiovasculares, o diabetes e os transtornos mentais.

Os primeiros resultados do estudo suplementar ao ELSA-Brasil sobre a COVID-19 estão disponíveis no boletim infográfico divulgado pela equipe da pesquisa. Para acessar o documento completo, clique aqui.[:]