Foto: Divulgação/Semsa - Manaus

[:pb]Os moradores das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil têm de 5 a 8 vezes mais chances de contrair hanseníase. Para as crianças que vivem no Norte do país, o risco é 34 vezes maior em comparação com aquelas que moram na região Sul. O alerta é de um estudo recém-publicado na The Lancet Global Health, uma das revistas de maior prestígio na área médica do mundo. A pesquisa também foi uma das vencedoras do prêmio de melhor trabalho científico na 55ª edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o MedTrop, realizado entre os dias 28 e 31 de julho, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Com uma base de dados de 100 milhões de brasileiros, a pesquisa é a maior já realizada sobre a doença até agora. O estudo confirmou que pessoas em condições típicas da pobreza estão mais expostas aos riscos de adoecimento. “As piores condições de moradia, renda, escolaridade, alimentação, iniquidades regionais e raciais aumentam o risco de adoecimento dos indivíduos que estão infectados pelo Mycobacterium leprae, o causador da hanseníase”, explica Joilda Nery, professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA) e uma das principais autoras da pesquisa.

As chances dobram quando há ausência de renda, escolaridade e condições inadequadas de habitação, como a ausência de rede pública de saneamento ou para quem vive em moradias construídas com taipa e madeira. Ainda de acordo com o estudo, as pessoas sem renda ou com renda individual abaixo de R$ 250 por mês apresentaram um risco 40% maior em relação àquelas que ganham acima de um salário.

A análise também concluiu que as crianças de raça/cor preta possuem 92% mais risco de contrair hanseníase em relação às crianças brancas. Segundo os pesquisadores, a aglomeração de pessoas na mesma casa e ausência de energia elétrica também foram consideradas fatores de risco para essa faixa etária. De acordo com o levantamento, a incidência da doença também é maior entre os homens.

Professora e pesquisadora Joilda Nery (ISC/UFBA) apresenta estudo sobre hanseníase na 55ª edição do MedTrop, em Belo Horizonte (MG)

Dados do Ministério da Saúde apontam cerca de 30 mil casos de hanseníase, por ano, no Brasil. O país é o segundo com mais casos da doença no mundo, atrás apenas da Índia. Para Joilda Nery, a pesquisa pode contribuir na adoção de medidas que busquem reverter esse cenário. “O estudo oferece aos gestores evidências para apoiar na tomada de decisão e promover políticas públicas mais equitativas”, avalia.

O trabalho é liderado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) em parceria com pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Universidade de Brasília (UnB), Fiocruz Brasília, London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) e Universidade Federal Fluminense (UFF).

Coorte de 100 milhões

Para produzir o estudo, os pesquisadores utilizaram uma plataforma que reúne dados de 100 milhões de brasileiros. O banco é alimentado com informações do Cadastro Único – utilizado para cadastrar candidatos a qualquer um dos mais de 20 programas sociais do Governo Federal – e dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) – que registra os casos de hanseníase no Brasil. A partir dessa base, foram coletados dados de 33 milhões de pessoas que utilizaram algum benefício social entre os anos de 2007 e 2014. Desse total, quase 24 mil eram indivíduos diagnosticados com hanseníase.

Julia Pescarini, pesquisadora do Cidacs/Fiocruz

“A base de dados da Coorte de 100 Milhões fornece uma oportunidade única para a comunidade científica estudar, com detalhes, as doenças que atingem a parcela mais pobre da população brasileira e quais as políticas sociais têm sido mais efetivas para o seu controle”, afirma a pesquisadora do Cidacs Julia Pescarini, também uma das principais autoras do estudo.

A pesquisa do grupo é financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Medical Research Council, Wellcome Trust, Economic and Social Research Council e Biotechnology and Biological Sciences Research Council.

Além desse trabalho, o grupo de pesquisadores desenvolve uma série de estudos, em fase de finalização, que buscam avaliar o efeito dos determinantes e o impacto de programas sociais na incidência, incapacidades físicas e desfechos da hanseníase. Outra pesquisa, financiada pelo CNPq e coordenada pela professora Joilda Nery, discutirá as barreiras de acesso no diagnóstico e tratamento da hanseníase. “O nosso objetivo é trabalhar com mais detalhes os dados disponíveis e fazer uma análise diferenciada desses grupos populacionais”, conclui.[:en]Residents of the North and Midwest regions of Brazil are 5 to 8 times more likely to get leprosy. For children living in the north of the country, the risk is 34 times higher compared to those living in the southern region. The warning is from a study recently published in The Lancet Global Health, one of the most prestigious journals in the medical field. of the world. The research was also one of the winners of the prize for best scientific work at the 55th edition of the Congress of the Brazilian Society of Tropical Medicine, MedTrop, held between July 28 and 31, in Belo Horizonte, Minas Gerais.

With a database of 100 million Brazilians, the research is the largest ever conducted on the disease to date. The study confirmed that people in typical poverty conditions are more at risk of illness. “Worse housing conditions, income, education, food, regional and racial inequities increase the risk of illness for individuals who are infected with Mycobacterium leprae, the cause of leprosy,” explains Joilda Nery, a professor at the Institute of Collective Health (ISC / UFBA) and one of the main authors of the research.

The odds are doubled when there is no income, education and inadequate housing conditions, such as the absence of a public sanitation network or for those who live in houses built with mud and wood. Also according to the study, people with no income or individual income below $ 250 per month had a 40% higher risk compared to those who earn above a salary.

The analysis also found that black children are 92% more at risk of leprosy than white children. According to the researchers, the crowding of people in the same house and the absence of electricity were also considered risk factors for this age group. According to the survey, the incidence of the disease is also higher among men.

Professor and researcher Joilda Nery (ISC / UFBA) presents study on leprosy at the 55th edition of MedTrop, Belo Horizonte (MG)

Data from the Ministry of Health indicate about 30,000 leprosy cases per year in Brazil. The country is the second with most cases of the disease in the world, behind only India. For Joilda Nery, research may contribute to the adoption of measures that seek to reverse this scenario. “The study provides managers with evidence to support decision making and promote more equitable public policies,” he says.

The work is led by the Health Knowledge and Data Integration Center (Cidacs / Fiocruz Bahia) in partnership with researchers from the Institute of Collective Health (ISC) of the Federal University of Bahia (UFBA), from the University of Brasília (UnB), Fiocruz Brasilia, London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) and Fluminense Federal University (UFF).

100 million cohort

To produce the study, the researchers used a platform that gathers data from 100 million Brazilians. The bank is fed with information from the Cadastro Único – used to register candidates for any of the Federal Government’s more than 20 social programs – and data from the Sinan Disease Information System (Sinan) – which records leprosy cases in Brazil. From this base, data were collected from 33 million people who used any social benefit between 2007 and 2014. Of this total, nearly 24,000 were individuals diagnosed with leprosy.

Julia Pescarini, Cidacs / Fiocruz Researcher

“The 100 Million Cohort database provides a unique opportunity for the scientific community to study in detail the diseases that affect the poorest portion of the Brazilian population and which social policies have been most effective for their control,” he says. Cidacs researcher Julia Pescarini, also one of the lead authors of the study.

The group’s research is funded by the Federal District Research Support Foundation, National Council of State Research Support Foundations (Confap), National Council for Scientific and Technological Development (CNPq), Higher Education Personnel Improvement Coordination (Capes). ), Medical Research Council, Wellcome Trust, Economic and Social Research Council and Biotechnology and Biological Sciences Research Council.

In addition to this work, the group of researchers is developing a series of studies, which are being finalized, which seek to evaluate the effect of determinants and the impact of social programs on the incidence, physical disabilities and outcomes of leprosy. Another research, funded by CNPq and coordinated by Professor Joilda Nery, will discuss the barriers to access in the diagnosis and treatment of leprosy. “Our goal is to work on the available data in more detail and make a different analysis of these population groups,” he concludes.

 [:es]Los residentes de las regiones del norte y medio oeste de Brasil tienen de 5 a 8 veces más probabilidades de contraer lepra. Para los niños que viven en el norte del país, el riesgo es 34 veces mayor en comparación con los que viven en la región sur. La advertencia proviene de un estudio publicado recientemente en The Lancet Global Health, una de las revistas más prestigiosas en el campo de la medicina. del mundo. La investigación también fue uno de los ganadores del premio al mejor trabajo científico en la 55ª edición del Congreso de la Sociedad Brasileña de Medicina Tropical, MedTrop, celebrada entre el 28 y el 31 de julio, en Belo Horizonte, Minas Gerais.

Con una base de datos de 100 millones de brasileños, la investigación es la más grande realizada hasta la fecha sobre la enfermedad. El estudio confirmó que las personas en condiciones típicas de pobreza tienen mayor riesgo de enfermedad. “Las peores condiciones de vivienda, los ingresos, la educación, la alimentación, las inequidades regionales y raciales aumentan el riesgo de enfermedad para las personas infectadas con Mycobacterium leprae, la causa de la lepra”, explica Joilda Nery, profesora del Instituto de Salud Colectiva (ISC / UFBA) y uno de los principales autores de la investigación.

Las probabilidades se duplican cuando no hay ingresos, educación y condiciones de vivienda inadecuadas, como la ausencia de una red de saneamiento público o para quienes viven en casas construidas con barro y madera. También según el estudio, las personas sin ingresos o ingresos individuales por debajo de $ 250 por mes tenían un riesgo 40% mayor en comparación con aquellos que ganan por encima de un salario.

El análisis también encontró que los niños negros tienen un 92% más de riesgo de lepra que los niños blancos. Según los investigadores, el hacinamiento de personas en la misma casa y la ausencia de electricidad también se consideraron factores de riesgo para este grupo de edad. Según la encuesta, la incidencia de la enfermedad también es mayor entre los hombres.

La profesora e investigadora Joilda Nery (ISC / UFBA) presenta un estudio sobre la lepra en la 55ª edición de MedTrop, Belo Horizonte (MG)

Los datos del Ministerio de Salud indican alrededor de 30,000 casos de lepra por año en Brasil. El país es el segundo con la mayoría de los casos de la enfermedad en el mundo, solo por detrás de la India. Para Joilda Nery, la investigación puede contribuir a la adopción de medidas que buscan revertir este escenario. “El estudio proporciona a los gerentes evidencia para apoyar la toma de decisiones y promover políticas públicas más equitativas”, dice.

El trabajo está dirigido por el Centro de Integración de Datos y Conocimientos de Salud (Cidacs / Fiocruz Bahia) en colaboración con investigadores del Instituto de Salud Colectiva (ISC) de la Universidad Federal de Bahía (UFBA), de la Universidad de Brasilia (UnB), Fiocruz Brasilia, London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) y Fluminense Federal University (UFF).

100 millones de cohorte

Para producir el estudio, los investigadores utilizaron una plataforma que recopila datos de 100 millones de brasileños. El banco recibe información del Cadastro Único, utilizado para registrar candidatos para cualquiera de los más de 20 programas sociales del Gobierno Federal, y datos del Sistema de Información de Enfermedades de Sinan (Sinan), que registra casos de lepra en Brasil. A partir de esta base, se recopilaron datos de 33 millones de personas que utilizaron algún beneficio social entre 2007 y 2014. De este total, casi 24,000 eran personas diagnosticadas con lepra.

Julia Pescarini, investigadora de Cidacs / Fiocruz

“La base de datos 100 Million Cohort ofrece una oportunidad única para que la comunidad científica estudie en detalle las enfermedades que afectan a la parte más pobre de la población brasileña y qué políticas sociales han sido más efectivas para su control”, dice. La investigadora de Cidacs, Julia Pescarini, también una de las autoras principales del estudio.

La investigación del grupo está financiada por la Fundación de Apoyo a la Investigación del Distrito Federal, el Consejo Nacional de Fundaciones de Apoyo a la Investigación del Estado (Confap), el Consejo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico (CNPq), la Coordinación de Mejora del Personal de Educación Superior (Capes). ), Medical Research Council, Wellcome Trust, Economic and Social Research Council y Biotechnology and Biological Sciences Research Council.

Además de este trabajo, el grupo de investigadores está desarrollando una serie de estudios, que se están finalizando, que buscan evaluar el efecto de los determinantes y el impacto de los programas sociales sobre la incidencia, la discapacidad física y los resultados de la lepra. Otra investigación, financiada por CNPq y coordinada por la profesora Joilda Nery, discutirá las barreras de acceso en el diagnóstico y tratamiento de la lepra. “Nuestro objetivo es trabajar en los datos disponibles con más detalle y hacer un análisis diferente de estos grupos de población”, concluye.

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