O Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) inicia em agosto uma nova etapa da pesquisa que busca avaliar a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares, e outras doenças associadas. Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), são cerca de 2000 participantes que integram o estudo desde 2008.

“Convidaremos para esta próxima etapa, a onda 4, todos os servidores que participaram das ondas anteriores e aqueles que porventura tenham deixado de participar de alguma etapa”, destaca Sheila Alvim, professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA), coordenadora local e membro do Comitê Diretivo do ELSA-Brasil.

O público-alvo da nova fase é formado por servidores entre 49 e 88 anos de idade, que participam da pesquisa desde 2008. Em entrevista presencial no centro de investigação ELSA-Brasil da UFBA, responderão a questionários que versam sobre fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis, condições de vida, experiências de discriminação, estresse no trabalho, saúde mental, questões de gênero, atividade física e especificidades da dieta da população brasileira.

“Os questionários serão aplicados de forma intercalada com exames de sangue e urina, medidas da pressão arterial, peso corporal, circunferências da cintura e quadril, bioimpedância, força isométrica das mãos, performance física, eletrocardiograma, entre outras avaliações”, explica a coordenadora.

A previsão é que as visitas presenciais sejam iniciadas em agosto e finalizadas até outubro de 2023. Assim como nas etapas anteriores, as entrevistas por telefone para monitoramento dos eventos de saúde também serão mantidas neste período.

“Na terceira onda presencial do ELSA-Brasil, realizada de 2017 a 2019, tivemos uma taxa de resposta satisfatória de 87% entre os participantes. Este compromisso e engajamento das voluntárias e voluntários da pesquisa é fundamental para o sucesso do ELSA-Brasil”, destaca Sheila Alvim.

ELSA-Brasil: 14 anos de pesquisa

O estudo ELSA-Brasil é coordenado na Bahia pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e desenvolvido, simultaneamente, na UFMG, UFES, UFRGS, USP e Fiocruz-RJ. São 15 mil servidores participantes, distribuídos nos seis centros de investigação.

Nos últimos 14 anos, já foram publicados mais de 400 artigos científicos com base no estudo e o conhecimento produzido tem orientado políticas públicas de prevenção e enfrentamento das doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade.

“O ELSA-Brasil tem inovado no estudo de fatores de risco não clássicos relacionados a essas doenças, como experiências de discriminação, estresse no trabalho, conflito trabalho-família, imagem corporal, tempo de tela e tempo sentado, eventos negativos de vida, capital social, características de vizinhança, além de outras doenças associadas”, destaca Sheila Alvim.

A equipe do centro de investigações ELSA-Brasil da UFBA tem liderado diversos estudos no âmbito da promoção da saúde e suas interseções com gênero, raça e classe social. Os achados apontam, por exemplo, que as mulheres são mais comprometidas com um estilo de vida saudável, assim como a educação elevada e idade mais avançada favorecem um estilo de vida mais saudável na população investigada.

Os pesquisadores da UFBA também vêm investigando os efeitos da atividade física e a redução do comportamento sedentário nos participantes da coorte. Um dos estudos, publicado em setembro do ano passado, aponta que a atividade física no tempo livre é positivamente associada a maiores níveis de HDL-C (colesterol bom).

Outro tema em destaque é a relação entre o uso de terapia hormonal da menopausa (THM) e a hipertensão arterial. Um dos levantamentos, publicado em maio deste ano, identificou que esse tipo de terapia tem sido menos utilizado por mulheres com problemas de saúde e fatores associados às doenças cardiovasculares, o que pode ajudar a diminuir os riscos de sua utilização. Agora, com os dados da quarta onda, os pesquisadores pretendem identificar com mais clareza se existe associação entre o uso da terapia hormonal da menopausa e a incidência de hipertensão em mulheres com menopausa.

O ELSA-Brasil tem atraído atenção de coortes internacionais para realização de parcerias científicas, como a Geração XXI, coorte formada por mulheres portuguesas que foram comparadas às brasileiras na avaliação da distorção da autoimagem corporal e variáveis ​​sociodemográficas, estilo de vida e saúde. O ELSA-Brasil também participou do projeto InterConnect, que analisou dados de 25 coortes internacionais. A primeira publicação replicou associações entre padrões dietéticos e o risco de diabetes tipo 2 para populações específicas.

Pandemia de Covid-19

Durante a pandemia de Covid-19, o ELSA-Brasil realizou uma etapa especial do estudo com o objetivo de avaliar, a curto e longo prazos, a relação entre as medidas de distanciamento social e os fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis e saúde mental, assim como os impactos da Covid-19 nas esferas socioeconômica e familiar.

Os resultados preliminares mostraram, por exemplo, que a pandemia repercutiu significativamente na saúde mental dos servidores, sobretudo entre as mulheres. Durante o distanciamento social, 24% delas apresentaram sintomas de depressão, 20% enfrentaram ansiedade e 17% alegaram estresse. As mulheres também foram as mais afetadas pela sobrecarga de trabalho no contexto da pandemia, realizando, em média, 4 horas de trabalho doméstico por semana a mais do que os homens.

O levantamento revelou ainda que a pandemia aumentou em mais de 62% o tempo de exposição contínua a telas de celulares, tablets, computadores e televisão, além de estimular comportamentos mais sedentários e provocar mudanças significativas nos hábitos alimentares das pessoas.

“Com a realização da quarta onda, o ELSA-Brasil também poderá ajudar a explicar aspectos relacionados ao desenvolvimento da Covid-19 e suas relações com doenças pré-existentes e futuras e medidas de enfrentamento”, avalia a professora Sheila Alvim.

As produções científicas baseadas na nova coleta de dados devem ser publicadas pelos pesquisadores a partir de 2024.