A criação de um protocolo de cuidado para crianças na primeira infância que articula profissionais de diversas áreas para um olhar integral sobre esse público é o principal objetivo de uma pesquisa que tem integrado docentes e estudantes do Instituto de Saúde Coletiva (ISC), das faculdades de Educação e Odontologia e do curso de Fisioterapia do Instituto Multidisciplinar de Reabilitação e Saúde da UFBA. A mesa “Pesquisa PPSUS: Uma proposta interdisciplinar para o cuidado integral da Primeira Infância na Atenção Primária articulada com a intersetorialidade” mostrou os desafios do projeto em andamento.

O estudo integra o Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), iniciativa federal que descentraliza o fomento à pesquisa em saúde nas unidades federativas. Em seu segundo ano, passou por adaptações e expandiu seu foco original de cuidado para crianças com alterações neurológicas associadas ao Zika vírus para o cuidado a crianças de até seis anos atendidas na atenção primária. Por meio de uma parceria com a Residência Multiprofissional com Ênfase na Primeira Infância no Contexto do Zika Vírus do ISC, a proposta de protocolo de avaliação do desenvolvimento infantil tem sido aplicada em quatro unidades de Saúde da Família em Salvador (BA) localizadas nos distritos sanitários de Brotas, Boca do Rio, Cabula/Beiru e Itapuã.

Samilly Miranda, docente do ISC que integrou a mesa, afirmou que houve dificuldade de embasamento teórico por meio da literatura científica para aplicação da multidisciplinaridade desejada pela pesquisa. Com envolvimento de profissionais, pesquisadores e discentes das áreas de Saúde Coletiva, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social, Nutrição, Odontologia e Pedagogia e Fisioterapia, o estudo tem buscado desenvolver um instrumento de cuidado à criança que a veja de forma integral, sem separar as áreas da educação e da saúde.

Para isso, o contato com crianças e seus cuidadores tem abarcado ações no pré-natal, puericultura [área da saúde voltada ao estudo e cuidados com o ser humano em desenvolvimento, mais especificamente com o acompanhamento integral do processo de desenvolvimento das crianças], de estimulação precoce, educação em saúde e com o Programa Saúde na Escola (PSE).

A fonoaudióloga Fernanda Meireles, que concluiu a residência em Primeira Infância do ISC em 2022 e atuou no distrito de Brotas, destacou a importância do vínculo com a comunidade no processo de aplicação e desenvolvimento do protocolo de cuidado. No âmbito da Residência, foi criado um canal para envio de informações para as gestantes, puérperas e cuidadores de crianças, houve oferta de suporte online via Whatsapp e ações nas salas de espera das unidades de saúde, entre outras atividades, para estimular o contato entre as equipes e as famílias.

Para realizar as avaliações de desenvolvimento infantil nos distritos, que abrangem diversas áreas do desenvolvimento neuropsicomotor, a equipe utilizou um questionário online, brinquedos e um tapete sensorial desenvolvido pelas residentes. Regiane Barbosa, professora da Faculdade de Educação (Faced/UFBA), ressaltou que a prática de brincar é essencial na educação infantil, espaço no qual o cuidado precisa ser feito de maneira lúdica. “Muitas vezes o brincar passa despercebido, mas ele precisa ser dirigido”, pontuou.

Apontando a complexidade do espaço da educação infantil, que abrange práticas de cuidar e educar, contemplando hábitos de higiene, descanso, alimentação, desenvolvimento psicomotor, cognitivo, de linguagem, emocional, entre outros, a docente chamou a atenção para o desafio da intersetorialidade na pesquisa. Para a promoção do cuidado integral da primeira infância, cerne da iniciativa, a estratégia tem sido pensar práticas de cuidado de maneira ampla, articulando saúde e educação a partir de sujeitos de diversos setores, saberes e poderes.